segunda-feira, 4 de julho de 2016

Cercado! (Faroeste), por JEB (José Eduardo Bertoncello)

Cercado! (Faroeste)
(Autor: JEB - José Eduardo Bertoncello)


I

Bang! Bang! - Tiros!
Ele acordou num sobressalto da cama da prostituta, uma de suas empregadas. A garrafa vazia que dormiu com os dois, como uma boneca de criança, caiu e quebrou. A luz era pouca - era luz de começo de manhã.
Não foram no quarto. Foi até a porta, cambaleando. Fez uma bagunça, tropeçou, derrubou coisas - ainda estava bêbado. Ouviu, procurou ouvir: nada. Nem no seu Saloon, lá embaixo. Então, até a janela, na ponta dos pés. Olhou sorrateiramente pela fenda, com medo de mexer na cortina, escondendo-se. Lá estavam, lá fora. Vindo pela rua. Muitos, talvez todos eles. A cidade inteira?
- Estrume!!! – praguejou. - Estrume!!! Estrume!!! Estrume!!!
Pegou só o cinto com as armas e as balas. Abandonou o quarto, sua funcionária dorminhoca e suas roupas. Desceu, saiu por uma janela, fugiu para os fundos.
Muitos sofriam e muitos morreram. Por causa dele. Não devia ter comprado wisky daquele traficante, não dele. E não devia tê-lo batizado. Não com pólvora, nem com alcatrão, nem com...
Os gritos chegavam de longe, junto com tiros para o alto. Estavam cheios de palavrões e maldições. No meio destes, algumas promessas:
- Nós vamos te dar pros peles-vermelhas!!! Eles também estão doentes!!! Vão usar seu couro safado para fazer tambores!!!
- Não!!! – E pôs a mão em seu escalpo, ainda no lugar.
Pegou o cavalo de outro, que não queria ser pego. Ele resistiu – não era o seu dono. No desespero, o fugitivo seminu sacou e encostou uma arma na cabeça do animal, e o ameaçou, cuspindo em sua cara. Situação ridícula, mas o cavalo pareceu entender e aquietou-se. Montou. A cela, sentida nua e crua, incomodava sua pele.
Para onde?
Olhou para o deserto. Aquele abismo encarou-o de volta. Era sua única saída. Ninguém pensaria que fugiu por ali... Que seria tolo ou louco o suficiente. Entrar no deserto sem água, sem comida... Sem roupas e sem chapéu também. Sem esperança. Nenhuma.
Foi.

--------- X ---------

II

Olhou várias vezes para trás. Procurava-os lá no horizonte distante sem querer encontrá-los.
Ninguém.
Era culpado e todos o odiavam, até a natureza. O sol chicoteou sua pele durante horas. O vento resolvera cuspir areia em seus olhos, pequenos punhais. E investiu contra ele, como que querendo segurá-lo, impedi-lo de continuar, queria que fosse pego. E o animal parecia sacolejar mais do que deveria, só para torturar suas nádegas. Maldito!
O Sol passeou lentamente por sobre ele. Quando estava indo embora, a meio caminho do chão, suas forças se foram de uma vez. Escorreram com o suor. Não tinha nem o suficiente para ficar ereto na sela. Despencou sobre o animal, que finalmente pode diminuir o ritmo da fuga para o de um cortejo fúnebre. Pensara, antes do desmaio, na sorte dele: sua suadeira o banhava e refrescava. Maldito!
De repente... Trovões! Rugidos! Tiros! Eles!
Acordou. Gritou e virou sobre a cela, num movimento brusco. Caiu do cavalo. Este se ergueu e relinchou, quase sádico e provocante, e o abandonou em disparada. Adeus...
- Não, desgraçado!!! Volte aqui!!! Volte aqui!!!
Atirou no traidor para segurá-lo. As duas armas, várias balas. Conseguiu – matou-o.
Mais tiros vindo caçá-lo lá de trás, um enxame de disparos. Correu. Saltou para trás de uma pequena duna.
Estava...
- Nãããooo!!!
Sim. Estava cercado.
- Aaaaahhhhh!!!
Vomitou todo o seu desespero nesse brado. Não tinha balas ou sorte para lidar com todos. Tinha o ódio de muitos.
O que lhe restava?
Colocou os canos sob o queixo. Sentiu-os por um momento. Fechou os olhos, tremeu, chorou, quase rezou.
Bang! – dois sons, ouvidos como um só. Duas mortes, para garantir sua fuga. Sua vida espirrou para cima e choveu sobre as areias como um pequeno chafariz. Seu cadáver ajoelhou e caiu para frente, prestando reverência à morte, que ele invocara.
Pouco depois, o vento começou a intensificar-se e a assobiar, como que pedindo silêncio. A areia foi revolvida; O sangue foi misturado ao solo; Os rastros sumiram. Mas nenhuma pegada nem marca de bala, além das do fugitivo, foram apagadas. Ninguém mais ouviu o seu grito ou o disparo final. Foi assombrado por fantasmas... delírios e miragens. Bebida, Sol e desespero – eis tudo.
Ao ser encontrado, seu esqueleto falaria aos vivos de uma história só testemunhada pelos carniceiros. Um conto dos abutres.
- Fim -

quinta-feira, 23 de junho de 2016

SOBRE GOMOS, por Ivan Vagner Marcon (Poema)

SOBRE GOMOS
(Autor: Ivan Vagner Marcon)


Não, eu não padeço dessas 
procuras
pois disso curei-me há tempos.
Nunca busquei
"minha metade da laranja"
pois sempre fui inteiro.
Quando entendi meus gomos
percebi que a única coisa que me faltava
era
(apenas)
quem me chupasse bem.


terça-feira, 31 de maio de 2016

Contos Do Marinheiro Bravio, por JEB (José Eduardo Bertoncello)

Contos Do Marinheiro Bravio

Autor: JEB (José Eduardo Bertoncello)



Eu o conheci quando era criança. O marinheiro.
No começo do século XIX, eu e meus pais fazemos longas viagens juntos. Singramos o mar em navios, encaramos tempestades diversas vezes... Mas uma foi diferente. Uma vez, pareceu que o mundo ia acabar. Uma borrasca que parecia maior que a vida nos pegou. Mas ele estava lá.
Nós, passageiros, os frágeis, nos escondemos. Alguns ficaram. Ele ficou.
Diante de um furacão que era um deus furioso em meio a um apocalipse que eram seus cães de caça, o marinheiro manteve o navio firme, nos afastou do pior e nos fez aguentar o perigo que nos atingiu. O mar não conseguiu fazê-lo soltar o timão, mesmo inclinando o navio e jogando quase todo o oceano contra seu corpo. Ele venceu aquela queda de braço com a Natureza.
Ele era algo além dos demais homens. Disso, ninguém tinha dúvida. Especial.
Tinha uns quarenta ou cinquenta anos, e era muito feio. Poderia ser monstruoso com sua rudeza e desgaste... Mas algo o tornava cativante. Acho que era a alma. Uma alma nobre. Heróica. Dela vinha o seu brilho.
Careca. Um dos olhos sempre fechado, talvez por um ferimento, talvez pelo excesso de luz da imensidão marítima. Cachimbo sempre na boca, mais fiel que um cão ou um amigo. Pele judiada pela exposição aos dias de mar, couro duro e rachado de quem era chicoteado pelo sol dia a ida.
Não era tão alto, mas era muito, muito musculoso e tinha ossos grandes. Seu corpo gritava ser potente e resistente. Seu queixo era uma bigorna. Os braços dele eram enormes... Talvez minha visão juvenil, muito impressionável, os tenha exagerado ao fixar a imagem na memória... Mas me pareciam enormes. Anormais. Eram maiores que minha cabeça. Verdadeiras marretas. Dignos de um Hércules, capazes de vencer monstros. Tatuados com âncoras, adornados com o símbolo de sua fonte de força e de seu desafio constante.
Ele parecia um potente transatlântico. Era um verdadeiro homem do mar, um homem que fora talhado pelo mar para o mar.
Era um cara legal. Os outros o adoravam. E ele falou comigo, brincou comigo.
Eu ouvi várias histórias, de todos aqueles marinheiros cheirando a suor, bebida, peixe e sal. Claro que hoje não acredito em nenhuma delas... Mas a criança que fui as adorou. Ela viajou em todas elas, para mais além de qualquer outro lugar que meus pais haviam me levado.
Ele enfrentou um lula gigante.
Ele encontrou um navio-fantasma.
Ele sobreviveu ao Maelstrom. Ele conheceu o Capitão Nemo. Ele viu o Leviatã.
Ele viajou até as áreas mais longínquas, onde os monstros dos mapas antigos haviam se refugiado... Perto do fim do mundo, onde ficavam as fendas secretas pelas quais os oceanos caiam.
E as sereias tentaram encantá-lo, mas sua alma se manteve fiel a sua amada.
É, ele tinha um amor. Os heróis sempre tem.
Nós, passageiros, os frágeis, já haviamos desembarcado e estávamos quase indo, quando ele e os outros marinheiros começaram a sair. Foi quando os vi.
Quando desceu para terra, seu andar era estranho. Não gostava da calmaria.
Ela estava lá, esperando-o. Quando a vi, me pareceu tão sem graça... Muito magra, com uma voz horrível. Feia, pensei, criança que era. Feia na medida para combinar com ele.
Ele, entretanto, a tratou como uma dama, como uma princesa. Sua princesa. Nunca esqueci disso.
Sua feiura e rudeza, os desgastes de uma poderosa ferramenta com muitos anos de uso agressivo, conviviam com a alma mais nobre e cavalheiresca que poderia haver.
Um exemplo de optar por ser forte e nobre. Nunca esqueci disto, mesmo crescendo. Nunca esqueci dele.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Indigente, por Nilson Araujo (Poema)

Indigente
(Autor: Nilson Araujo)


No meu jarro não tem água

No meu cesto não tem pão

E se te estendo as mãos

Você logo me joga esmolas

De noite vejo estrelas

De dia elas passam por mim

Miragem de um oásis

Caminho em rumo até o fim

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Jeté e o Universo me recebe, por Janaína Alves (Poema)

    Jeté e o Universo me recebe   
   (Autora: Janaína Alves)   





Jogada
aos seus pés, Universo
converso
com a alma

Atirada
aos ventos, no desvão
calço os meus pés
nos espaços todos

Jeté
faço de olhos fechados
e me lanço no filtro do mundo
onde passa a água da Vida


Grand Jeté
e bailo descalça
pelas águas que cobrem os quatro cantos da terra
sem holofotes, sem plateia,

Mergulhada

nessa fonte-vida
danço molhada pelo palco:
nascente de mim!

É a ausência dos meus pés nessa sapatilha,
que torna essa dança
bonita
aqui não há pés para sapatos
só para infinitos...





-------- Notas da autora --------
*Jeté: passo de balé, pulo que consiste em mover ou projetar um dos pés em qualquer direção, levantando o outro ao mesmo tempo e apoiando o corpo ora numa perna, ora noutra;
é do Francês e sua tradução literal para o Português é: Jogado!
*nascente de mim (ou nascente em mim), surgiu no texto no sentido da nascente mesmo de águas, de rio, no sentido de libertar-se do percurso que foi proposto e saltar para o “filtro da água da vida”, da própria Vida e sentido de viver... livre!

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A viagem pelas letras, por Natalia Moreno (Crônica)

A viagem pelas letras
(Autora: Natalia Moreno)

Antes de ter a minha independência financeira para poder viajar eu conheci outras cidades, estados, países, o mar e outras culturas através dos livros.
A leitura me levou para lugares maravilhosos. Comecei a explorar o mundo com a Coleção Vaga-Lume, me angustiei com Zezinho e sua porquinha preta e com o sufoco que Atíria passou e me aventurei na Ilha Perdida.
Fui crescendo e tomando gosto por outros lugares, outras histórias. Andei de navio com Gulliver, fui cúmplice do Dr. Frankenstein, tive aulas com Platão e me vi no Mundo de Sofia. Sonhava com um amor puro e verdadeiro como Romeu e Julieta (só que sem a parte da tragédia), achei Aurélia bem sacana com Fernando em Senhora (mas bem que ele mereceu).
Na minha vida literária não tive muito incentivo da família para seguir com a cara nos livros, mas isso não me apagou. As letras me fascinavam (e fascinam). Era e é mágico que 26 letrinhas possam transformar-se em páginas e páginas.
Os livros e a música sempre estiveram presentes em minha vida, infelizmente, não tenho talento para ser uma rockstar, então peguei uma agenda velha e uma caneta e passei a criar o meu mundo.
Me tornei rata de biblioteca e era conhecida como a garota dos livros e foram eles as melhores companhias que eu poderia ter. Conforme fui crescendo os livros sem imagens foram me ganhando ainda mais. Me ensinaram, divertiram e me viciaram (sem efeito colateral). Adquiri uma interpretação de texto e de mundo melhor, arrisco a dizer que me deixaram mais inteligente.
Então quis criar novos mundos, novas realidades. Criei minhas histórias, meus personagens que me consomem e teimam em ter vida própria. Criei a Sofia que me ensinou a importância do amor próprio, criei contos que saíram do meu íntimo carregados de sentimentos/sensações que eu teimava em negar. Criei a Lilian que lutou para provar que era mais que um rosto marcado.
De cada livro que li, que escrevi, guardei o conhecimento e esse eu sei que ninguém me tira! Comece com o que gosta. Nem todo livro é sobre mocinhas e mocinhos (O caçador de pipas), nem todos são de conteúdo sério (O diário de Bridget Jones). Quer aventura? Leia As viagens de Gulliver.
Não existe livro chato. Existe um livro para cada pessoa!


segunda-feira, 25 de abril de 2016

A Horrível Conspiração Das Tenebrosas Plantas Com Olhos Malignas, por José Eduardo Bertoncello (Conto)

A Horrível Conspiração Das Tenebrosas Plantas Com Olhos Malignas
Autor: JEB (José Eduardo Bertoncello)



(Lembrem-se: Isto é uma história!)



Depois de terminar de escrever isto, vou me matar! Não aguento mais!
Philodendron bipinnatifidum, conhecido como guaimbê. Este é o nome do inimigo, essa coisa horrível na foto. A maldita planta telepata alienígena!
E só eu sei disso... Minha nossa! MINHA NOSSAAA!!!
Minha tragédia começou cedo, quando eu era muito criança... Na idade em que a ingenuidade nos dava felicidade. Foi numa tarde, depois de assistir a Jonny Quest, Space Ghost ou Scooby Doo... Disso, não lembro. Mas eu lembro muito bem do que aconteceu depois. E como eu gostaria de esquecer...!
Esconde-esconde. Maldita brincadeira! Nunca brinque de esconde-esconde, não deixem seus filhos brincarem! Querendo vencer, achei que havia encontrado um bom lugar e me enveredei entre as folhas grandes. Adentrei uma pequena floresta, que para uma criança parecia a própria África misteriosa. E lá eu vi. Aquela coisa. Ela era a própria floresta, que era um disfarce para si, para seu mal poder crescer.
Uma forma serpentina, tentacular, que saída do solo como morto-vivo, seu corpo cheio de olhos enormes esbugalhados, revirados para cima como os de um cadáver. Tentáculos saiam de algumas partes – Não eram raízes! Sobre o corpo-cabeça uma coroa verde, o símbolo de alguma autoridade terrível sobre o espaço sombreado, quase escuridão, que as folhas geravam. E no centro da coroa, uma flor-fruto estranha, fálica, branca como leite. Ela atraia insetos, que faziam o único barulho dentro dos domínios da planta.
Até que eu senti. Senti terrivelmente: Ela pensava, ela tinha vontade própria, e ela era maligna. Eu saí correndo de lá, tenho certeza de que momentos antes que ela decidisse abandonar seu disfarce e me pegar. Antes que os olhos se voltassem para mim, antes que as folhas me pegassem como garras verdes de muitos dedos. Antes que me forçasse a comer seu fruto corrupto e me envenenasse.
Tenho certeza de que os olhos iam se mexer. Tenho certeza de que escapei por um triz.
Nunca mais voltei até aquela área... Mas a planta não me deixou em paz. Passei a sonhar com ela. Pesadelos horríveis.
Eu fiquei marcado. As malditas plantas devem ser telepatas, devem manter uma rede... Cada vez que topava com uma delas, tinha aquela certeza carnal de minha infância, além da lógica e dos fatos: Todos as guaimbês sabiam de mim. E deve ser com essa maldita telepatia vegetal que me assombraram com todos os pesadelos que tive. Elas devem ter tentado me pegar mentalmente.
Uma vez, já mais velho, quando minha ansiedade me fez começar a frequentar hospitais, eu vi uma mulher entrando numa daquelas pequenas selvas demoníacas... O hospital mantinha um desses monstros bem cuidado em seu jardim! Inacreditável! E creio que, oh meu Deus, ela estava procurando seu filho e outras crianças! Crianças haviam desaparecido lá! Provavelmente, estiveram brincando de esconde-esconde! Como fazemos besteiras quando somos pequenos! A mulher entrou e eu não a vi sair. Minha mãe me levou embora pouco tempo depois dela entrar, então não posso ter certeza.
Mas eu TENHO certeza, essa certeza que surge nos ossos e nas entranhas: Eles foram pegos!
Pobres criancinhas...
Há cada vez mais guaimbês pela cidade. Agora que te alertei, você perceberá isso! Com a telepatia elas devem fazer as pessoas ignorá-los, mas agora você sabe, vai ver. Cada vez mais... E há pessoas que as mantém em vasos... Minha nossa, já vi um decorador falar de usá-las como plantas decorativas como se fosse a última moda!
Devem ser alienígenas! Só podem ser! Pense nisso: Conquistadores extraterrestres disfarçados entre nós!
Mas eu não vou ser pego! Cansei dos sonhos nos quais as plantas conseguem se mexer e me pegar. Cansei dessas vozes que elas fizeram brotar em mim (Foram elas, as malditas!), de todos esses remédios que tive de começar a tomar... Vou resolver isso hoje, com a fumaça de meu carro. Só vou cuidar de mandar isso para as pessoas. Em meu blog que quase ninguém lê, nas minhas páginas com poucos amigos das redes sociais e via e-mail.
Eu não sou louco! Vocês estão em perigo! As guaimbês vão pegá-los! As guaimbês estão entre nós!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Poema, de Ivan Vagner Marcon

neste

outono


(juro)


revirarei


nossos velhos guardados...


os que viverem


        verão.          





Autor: Ivan Vagner Marcon



terça-feira, 12 de abril de 2016

EPIFANIA VERDE, por Sergio Diniz Da Costa (Poema)

 EPIFANIA VERDE
Autor: Sergio Diniz Da Costa




O vento passou e roçou
as folhas da jovem árvore
E ela, num súbito êxtase,
umedeceu o chão
num sublime orgasmo verde.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Banana Verde
Autor: Nilson Araujo


Uma vida cheia de sonhos

Deixados num canto qualquer

Por coisas que não estão certas

Por coisas que não deram certo

Sonhos embrulhados em jornais

Guardados e amadurecendo sozinhos

Alguns já passados, perdidos

Outros bem verdinhos

Porém todos embrulhados


Poema, por Ivan Vagner Marcon

Imagem: https://frasesdavida.files.wordpress.com/2013/11/ampulheta.jpg


Tempo: 
nossa
frágil 
mortalidade
(um conta-gotas 
com
sabor de eternidade).

Autor: Ivan Vagner Marcon


Pausa, por Nilson Araujo

Pausa
Autor: Nilson Araujo


Quando o tempo te dá uma trégua

Na falsa realidade de que a tormenta parou

Não perca sua sombra de vista

Não fixe seu olhar nos pés de alguém parado

Olhe para o céu, mesmo que de relance

E sinta o vento empurrando as nuvens

O tempo não pára

Imagem: http://www.carolinaaugusta.com.br/wp-content/uploads/2013/04/CA-cronica.jpg

Poema, por Marcelo Rehder Borba

Nas grotas e rincões desse nosso interior
Na madrugada o galo canta
Neste momento o matuto se levanta.
Porém, o que a muitos encanta
Na minha manhã me causa horror.
Levanto cedo tal qual o lavrador
Pois o canto de outra ave se agiganta
É o arrulhar das pombas agressor.
Pobre de mim, sofredor!
Já fiz de tudo, não adianta
Peço conselho a alguma alma santa
Cuja mente nesse grupo se abrilhanta:
Como acabar com o barulho perturbador?


Autor: Marcelo Rehder Borba

ALFINETES..., por Samanta Holtz

ALFINETES...
Autora: Samanta Holtz


Há dias que nossa "timeline" parece um paredão de indiretas e alfinetadas (isso quando nós mesmos não fincamos nossos próprios alfinetes ali...!).

Claro que é péssimo quando alguém tenta nos atingir com maldade. Eu mesma já passei por isso, e a vontade é de dizer um monte de coisas, mostrar que saímos por cima, que aquilo não nos atingiu. No entanto, notei o seguinte: a partir do momento em que nos damos o trabalho de publicar algo a respeito, mesmo que seja para dizer "você não me atinge", é sinal de que a pessoa conseguiu, sim, nos afetar. Ela venceu. E o que vai acontecer? Ela vai continuar provocando!

"Haters" sempre existirão. E qual é o nosso maior escudo contra eles? O silêncio. Sim, eu sei que parece difícil se calar... mas, se a vontade de desabafar ou xingar for tanta, escreva em um pedaço de papel, só pra você, depois vá em um lugar seguro e queime. E, enquanto observa o papel queimar, veja queimar também todo o ódio da pessoa contra você e os sentimentos ruins que aquilo provocou. Deixe ir embora!

E uma técnica que, para mim, sempre funciona? Reze por aquela pessoa. Deseje o bem a ela. Do fundo do coração. Porque, se ela precisa semear o mal para se sentir bem, é porque não está bem consigo mesma. Então deseje-lhe coisas boas. Assim, ela viverá em paz consigo mesma e com outros, inclusive com você!

Imagem: http://sociedadedospoetasporvir.blogspot.com.br/


A maldade de alguém é como uma fogueira; quanto mais você pensar nisso, falar sobre isso ou demonstrar que o calor dela o alcançou, é como se jogasse mais e mais gravetos para alimentá-la. Indiretas não vão mudar a opinião da pessoa a seu respeito, não vão fazê-la pedir desculpas, só vão dar mais força para que ela tente atingi-lo com ainda mais força na próxima vez.

E o maior benefício por trás disso: à medida que você para de dar atenção à maldade alheia e concentra suas energias só no que é bom, cada vez mais bondade (e menos maldade) chega até você. Parece mágica!

Pratique seu silêncio. Se precisar excluir a pessoa, exclua. Se precisar se resolver com ela, converse em particular, com o coração tranquilo. Se precisar denunciá-la, procure ajuda profissional. Mas não deixe o fogo de outra pessoa te queimar. Não deixe que o veneno dela se espalhe em você e o leve a dizer e pensar coisas ruins também. Acredite: é o que ela quer!

Paz e bem a todos!

(Publicado originalmente na página da autora:

Sonhei com você, por Nilson Araujo

Sonhei com você
Autor: Nilson Araujo


No tempo que passou
Eu nunca estive lá
Não pude entender
Mas te vi passar
Estendi a mão
Mas não te senti
Então caminhei buscando

No tempo que passou
Eu sempre estive aqui
Não pude te ver
Mas te quis comigo
Estendi a mão
Mas não te alcancei
Então acordei chorando


*******************************************************************


Janela da cozinha
Autor: Nilson Araujo

O som do vento anuncia
Vem chegando frente fria
O copo cheio d’água
Sozinho sobre a pia

"Porque a vida precisa de muito mais", por Sergio Diniz da Costa

"Porque a vida precisa de muito mais"*
Autor: Sergio Diniz da Costa


É isso mesmo, cara amiga, 
"Porque a vida precisa de muito mais". 
Muito mais do que o apenas comum, 
O apenas igual, a mesma cor,
O mesmo sabor (insípido). 
A vida precisa de mais ardor,
Ardência ou demência, 
Mas, sobretudo, clemência. 
E, para isso, precisa daquele que, 
Feito antena, empunha a pena, 
Que, ainda que pequena, 
De suas tintas colore páginas
do Livro da Vida.

Uma, duas... centenas.




* Este poema nasceu de uma postagem feita no Facebook por uma amiga e escritora (Adriana da Rocha Leite), a qual, no dia 25 de julho de 2015, considerado o Dia do Escritor, fez uma homenagem a todos os escritores, utilizando, logo no início, esta frase: “porque a vida precisa de muito mais”.


quarta-feira, 30 de março de 2016

CHUVA NA ROÇA, por Ivan Vagner Marcon (Poema)

CHUVA NA ROÇA
Autor: Ivan Vagner Marcon

Quando era dia de chuva na roça
eu corria assuntando pelas fresta:
os par de zóio perdido nas poça
a curiosidade estampada na testa.

Via as pranta alegre ca aguinha fresca
banhando as foia e raiz.
Belezura de se vê...Verdadera seresta
fazendo a  invernada muito mais feliz.



A água do poço vertendo e subindo
ajudando o barde a num esbarra nu fundo.
Água do céu pra matá a sede de nóis tudo
água bençoada... mió água do mundo.

E os banho da criação?
Cos galo e pato correndo dos raio
os franguinho ciscando o chão
e os passarinho escondidinho nos gaio.



Os gato esquentando ca quentura do fogão
o chero bão do café quente.
Os cachorro dormindo no chão
roncando e babando que nem gente.

Um ou outro trovão gorava os ovo no choco
e tinha uns par de curisco no campo...
Mais eu gritava: - Santa Barbra me venha em socorro
e me sarve de tanto relampo.



E quando da chuva chegava o finarzinho
co arco-da-véia colorindo o céu
o sor vindo bunito... di mansinho
co'a  bicharada fazendo iscarcéu...

E nos dia de hoje (de tanto medo e troça)
foi-se meu tempo de festança.
Sei que cada pancada que vi na roça
vai cê só sardade de minha lembrança.




PARTICIONADO, por José Eduardo Bertoncello (Poema)

PARTICIONADO
Autor: José Eduardo Bertoncello




Descubro-me CaLeIdOsCóPiCo
O Narciso no lago é Medusa
Reflexo envolvido na teia de aranha
De um espelho quebrado - As lascas são meus eus



Minha criança interior
Eu mantenho numa caixinha de joias
E esta, dentro de um cofre-forte
Longe, escondido. Diversas vezes perdi o mapa e a senha.

Minha melhor impressão
Está num medalhão, bem à vista
Sempre lustrada
Mas acho que é um amuleto supersticioso que não funciona...

Minha eficácia é uma arma enferrujando
E eu não costumava passar óleo nela
Ainda assim, eu a mantenho sempre no coldre
E, sempre com ela, até agora sobrevivi

Minha disposição para a luta,
Minha agressividade primal,
Levo para passear numa coleira
Nesses momentos, as pessoas desviam de mim

Meu lado mau eu tentei afogar num lago.
Ele voltou. Ele sempre volta.
Ele está bem atrás de mim, sinto sua respiração. Não é um anjo da guarda.
Um tipo de fera que é chamada por Luas Cheias ou coisas menores ainda.

A TESSITURA DE UM POEMA, por Sergio Diniz da Costa

A TESSITURA DE UM POEMA
Autor: Sergio Diniz da Costa



Recentemente, uma amiga me fez um pedido incomum: dizendo que queria ser poeta, pediu-me que a ajudasse nesse sentido.
O pedido causou-me dois sentimentos, antagônicos. O primeiro, de satisfação, porque ela fez o pedido a mim por se declarar admiradora de meus poemas. O segundo, porém, de preocupação, pois, afinal de contas, colocou sobre meus ombros a fé e a responsabilidade de que eu, de fato, poderia ajudá-la a ser uma poetisa.
E, dessa contradição de sentimentos, ocorreu-me um belíssimo poema que li há pouco tempo, de autoria de Rosana Sales, uma professora da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, e que tem por título justamente o desta crônica: “Como num quadro/ Pingo palavras numa folha em branco/ Borbulham gotas espaçadas de um verso em construção/ Ele transborda em mim/ E sai aos poucos/ Dolorido e choroso/ Emotivo e formoso/ Assim é o meu verso/ E assim vou escrevendo/ Sem rumo e rimas/ Emoção num crescente de letras/ Palavras impregnadas de sentidos/ Assim são os meus versos/ Pingados nas linhas tortas/ De uma noite insone/ Chegam devagar, tímidos/ Mas de repente encontram o seu rumo/ Palavras saltam e voam no papel/ Escapam do meu ser/ E assim vai-se um poema/ Ser gauche na vida/ Perfeito para mim”.[1]
Rosana Sales, neste belíssimo poema, nos fornece alguns lampejos sobre o que é ser, realmente, um poeta, uma poetisa, e o faz, inicialmente, mostrando que essa qualidade tão especial de um ser humano é algo que já está dentro dele; é um sentimento tão intenso, que, de modo “dolorido e choroso, emotivo e formoso”, devagar e timidamente acaba por transbordar da alma e pinga, em forma de palavras, numa folha em branco.



Ser poeta/poetisa é, essencialmente, ter olhos e ouvidos de ver e ouvir e, mais do que isso, de sentir o que a maioria dos seres humanos não vê, não ouve e, muito menos, sente. E essa transcendente percepção está além das palavras, que, muitas vezes, a limita, ao ser exteriorizada.
De posse desse raríssimo bem, tem um ser humano, portanto, a essência da poesia. Mas, semelhante a um diamante bruto, pode-se lapidá-la, quando a transformamos em poemas.
E aqui, sim, o estudo acadêmico ou o autodidatismo fornecem o cadinho e o fogo, de onde emergem os mais candentes poemas.
E, nessa trilha literária, além da hipersensibilidade e da imaginação ilimitada, a cultura geral, o domínio do vernáculo e, em especial, o conhecimento das chamadas Figuras de Linguagem [2], são ferramentas imprescindíveis que, uma vez dominadas, mais do que simples versos, permitem que o seu detentor se transforme em Arauto da Beleza, forjando imorredouros Versos de Ouro.

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NOTAS DO AUTOR
[1] Baú de Retalhos. http://retalhossaborososdosaber.blogspot.com.br/search?q=tessitura+de+um+poema . Acesso em: 03/07/2015

[2] Recursos de expressão, utilizados por um escritor, com o objetivo de ampliar o significado de um texto literário ou também para suprir a falta de termos adequados em uma frase. É um recurso que dá uma grande expressividade ao texto literário.