quarta-feira, 30 de março de 2016

A TESSITURA DE UM POEMA, por Sergio Diniz da Costa

A TESSITURA DE UM POEMA
Autor: Sergio Diniz da Costa



Recentemente, uma amiga me fez um pedido incomum: dizendo que queria ser poeta, pediu-me que a ajudasse nesse sentido.
O pedido causou-me dois sentimentos, antagônicos. O primeiro, de satisfação, porque ela fez o pedido a mim por se declarar admiradora de meus poemas. O segundo, porém, de preocupação, pois, afinal de contas, colocou sobre meus ombros a fé e a responsabilidade de que eu, de fato, poderia ajudá-la a ser uma poetisa.
E, dessa contradição de sentimentos, ocorreu-me um belíssimo poema que li há pouco tempo, de autoria de Rosana Sales, uma professora da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, e que tem por título justamente o desta crônica: “Como num quadro/ Pingo palavras numa folha em branco/ Borbulham gotas espaçadas de um verso em construção/ Ele transborda em mim/ E sai aos poucos/ Dolorido e choroso/ Emotivo e formoso/ Assim é o meu verso/ E assim vou escrevendo/ Sem rumo e rimas/ Emoção num crescente de letras/ Palavras impregnadas de sentidos/ Assim são os meus versos/ Pingados nas linhas tortas/ De uma noite insone/ Chegam devagar, tímidos/ Mas de repente encontram o seu rumo/ Palavras saltam e voam no papel/ Escapam do meu ser/ E assim vai-se um poema/ Ser gauche na vida/ Perfeito para mim”.[1]
Rosana Sales, neste belíssimo poema, nos fornece alguns lampejos sobre o que é ser, realmente, um poeta, uma poetisa, e o faz, inicialmente, mostrando que essa qualidade tão especial de um ser humano é algo que já está dentro dele; é um sentimento tão intenso, que, de modo “dolorido e choroso, emotivo e formoso”, devagar e timidamente acaba por transbordar da alma e pinga, em forma de palavras, numa folha em branco.



Ser poeta/poetisa é, essencialmente, ter olhos e ouvidos de ver e ouvir e, mais do que isso, de sentir o que a maioria dos seres humanos não vê, não ouve e, muito menos, sente. E essa transcendente percepção está além das palavras, que, muitas vezes, a limita, ao ser exteriorizada.
De posse desse raríssimo bem, tem um ser humano, portanto, a essência da poesia. Mas, semelhante a um diamante bruto, pode-se lapidá-la, quando a transformamos em poemas.
E aqui, sim, o estudo acadêmico ou o autodidatismo fornecem o cadinho e o fogo, de onde emergem os mais candentes poemas.
E, nessa trilha literária, além da hipersensibilidade e da imaginação ilimitada, a cultura geral, o domínio do vernáculo e, em especial, o conhecimento das chamadas Figuras de Linguagem [2], são ferramentas imprescindíveis que, uma vez dominadas, mais do que simples versos, permitem que o seu detentor se transforme em Arauto da Beleza, forjando imorredouros Versos de Ouro.

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NOTAS DO AUTOR
[1] Baú de Retalhos. http://retalhossaborososdosaber.blogspot.com.br/search?q=tessitura+de+um+poema . Acesso em: 03/07/2015

[2] Recursos de expressão, utilizados por um escritor, com o objetivo de ampliar o significado de um texto literário ou também para suprir a falta de termos adequados em uma frase. É um recurso que dá uma grande expressividade ao texto literário.



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